Insegurança e Criminalidade Urbana: um estudo sobre estratégias midiáticas em telejornais. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Esta pesquisa tem como foco a insegurança ontológica. Na psicologia, a insegurança é trabalhada como substrato da experiência de pessoalidade a partir dos processos de socialização que encontramos nas teorizações de Winnicott e, dentro de uma perspectiva da psicologia social, nas de Mead. Na contemporaneidade a insegurança está associada aos riscos que atravessam nossas práticas cotidianas dentre elas a criminalidade violenta. Em meio às diversas possibilidades de contato com a criminalidade, a mídia se insere como uma delas por ser uma discursividade que exerce o poder de fazer circular versões de realidade pela utilização de recursos linguísticos e semióticos, cuja combinação pode produzir maior poder de convencimento frente ao público receptor. Portanto, objetivamos neste estudo demonstrar como notícias sobre criminalidade violenta veiculadas em telejornais alimentam a insegurança. A partir dos aportes da psicologia discursiva e da sociosemiótica, analisamos três reportagens em dois telejornais distintos, procurando destacar o papel que as imagens e os discursos falados exercem no convencimento e alimentação da insegurança. A análise nos mostrou que as dimensões da insegurança são alimentadas quando a mídia, em sua estratégia discursiva, apresenta o mundo como incerto e pouco confiável pelo posicionamento moral dos telejornais em relação ao desviante, pelo uso estratégico de saberes especializados, pela a maneira com que é retratada a fragilidade da vítima e a impunidade. O uso das imagens, articulados com o discurso verbal, nos remete à falta de confiança na humanidade do outro, à imponderabilidade dos riscos na medida em que qualquer um pode sofrer o mesmo agravo que a vítima (identificação) e à falta de suporte e acolhimento na esfera da Justiça. Todos esses elementos acionados potencializam as dimensões da insegurança e pela maneira como as notícias são estruturadas, não há como isentar a mídia de certa intencionalidade em produzir efeitos que visam contribuir para a cultura do medo. A relevância deste estudo, a nosso ver, deve-se a possibilidade de darmos visibilidade a este processo. Texto na íntegra