“PRA TUDO TEM OS DOIS LADOS: IMPLICAÇÕES ÉTICO-POLÍTICAS DA NEGOCIAÇÃO DE VERSÕES SOBRE VIOLÊNCIA NUMA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL EM SÃO PAULO”
Esta pesquisa tem por objetivo entender os sentidos que têm para os educadores a violência na escola e as estratégias por eles utilizadas para lidar com ela. Partimos do pressuposto de que diferentes discursividades – a mídia, os dados demográficos e os textos científicos – contribuem para construir uma noção de violência atravessada por essencializações biológicas e culturais. Adotando uma metodologia associada ao Construcionismo Social, buscamos implicar os educadores da escola, onde o estudo foi desenvolvido, de modo a potencializá-los para produzir novos sentidos e negociar as versões de violência que lá circulavam. A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas. Na primeira, registramos os discursos sobre violência que surgiram em nossas perambulações pela escola e nas reuniões com os professores durante a Jornada Especial Integral (JEI). Esta fase possibilitou a elaboração de um texto que foi discutido, na segunda fase da pesquisa, com os professores do 3o período – foco principal do estudo por serem os alunos deste período os mais citados nos exemplos de violência. Esta discussão visava à construção de um texto consensual. Os resultados da primeira fase nos permitiram concluir que os sentidos da violência são múltiplos e contextualizados e que repertórios essencializantes, quando presentes em alguns discursos, trazem implicações para o cotidiano escolar por favorecer práticas excludentes ou paternalistas. Para professores que lecionam para alunos de 1a à 4a séries, os discursos versaram sobre a gênese da violência no núcleo familiar, fruto da negligência dos pais com os filhos e para com o processo educacional. Para os professores do 4o período, a violência dentro da escola é inexistente pelo fato de os alunos serem mais adultos, mas consideram violenta a condição social e econômica na qual se encontram esses alunos. Para os professores do 3o período, a violência foi interpretada como produto de um descompasso entre a necessidade de normas de convivência mais claras e omissão por parte da Direção na construção dessas normas. Acrescentaram também que consideram violência os educadores não conseguirem cumprir a missão primordial da escola que é educar. Já a análise da discussão do grupo centrada no texto-síntese mostrou que os processos de negociação de sentidos são sensíveis às relações de poder que podem facilitar ou obstacularizar estas negociações. Concluímos que espaços de negociação não devem ser únicos, mas presentes durante todo o processo de pesquisa. Texto na íntegra