
O quanto a pessoa dispõe para pagar sua terapia pode estar ligada a várias questões. Somos seres humanos complexos e, portanto, não há como esgotar todas as possibilidades que o dinheiro pode significar nesta hora. Mas certamente algumas podemos exemplificar. O dinheiro pode estar ligado ao investimento que a própria pessoa reconhece que merece. Ou seja, a manifestação de um cuidado sobre si mesmo. Outra possibilidade é o lugar que este terapeuta ocupa neste processo. Qual o seu valor como pessoa e como profissional. Quando falo deste “lugar”, me refiro também a um lugar simbólico: de cuidador, de acolhedor, de alguém que aposta em nosso crescimento. Estes exemplos não devem ser entendidos como regras, pois uma pessoa que se disponibiliza a pagar um valor inferior não necessariamente se vê como indigna de investimento e muito menos que o terapeuta não o mereça. O que trago para a discussão é que a questão do dinheiro está além dos cálculos monetários.
Mas estas questões não são privilégios dos clientes. Psicoterapeutas também podem ter dificuldade em lidar com o dinheiro, e este dilema, como é para o cliente, possui contornos simbólicos. O valor que ele cobra pode estar ligado a questões também concretas: seu comprometimento com a não elitização da terapia e a uma necessidade de aumentar sua lista de clientes. Mas pode falar também do valor que ele atribui a si próprio enquanto pessoa e profissional que é.
Mas o significado atribuído no processo de pagamento/recebimento extrapola generalizações. Este precisa ser entendido na relação específica entre cliente e psicoterapeuta, o que torna esta questão ainda mais complexa. Muitas vezes o psicoterapeuta, se não estiver muito atento, pode contribuir para a manutenção de uma forma específica do cliente se relacionar com as pessoas. O terapeuta pode vir a sentir pena, ter grande admiração, ser condescendente, ser duro, etc. E isto só pode ser entendido na especificidade deste encontro.
Há outro elemento que está envolvido neste processo e este diz respeito a questões de mérito. Do mesmo jeito que uma pessoa não inicia sua terapia por ser inviável financeiramente, o inverso é verdadeiro. “Se cobra pouco, não deve ser bom”. Isto se dá em razão de vivermos tempos em que a imagem é tudo. Os valores das pessoas se confundem com valores monetários. Dinheiro passa a ser sinônimo de eficiência. Certamente esta compreensão deve ser um dos focos de trabalho, mas isso só será possível de ser discutido se o cliente “suspender” essa forma de ver a situação e apostar no processo. O tempo vai dizer.
O dinheiro, em contextos psicoterápicos, possui conotações morais fortes. Se todos nós, tanto psicoterapeutas e clientes, considerarmos que nossas compreensões acerca destas questões são versões temporárias e não conclusões definitivas, podemos nos desarmar e apostar no diálogo franco e sincero. O dinheiro pode se converter num aliado simbolicamente importante, e isto independe da concretude de seu valor.